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Na empresa familiar, voto sem consenso estragou o churrasco de domingo

Revista O Lojista - edição 162 - página 29 - 20/04/2018

*Thomas Lanz
        
O voto é provavelmente um dos maiores símbolos da democracia. Através dele, os cidadãos têm o direito de se expressar e fazer suas escolhas de acordo com seus critérios, julgamentos e consciência. Mas vamos sair da esfera pública e nos transferir mentalmente para uma sala de reunião de uma empresa familiar. Ela já tem um Conselho formado por representantes de três braços de uma mesma família, descendentes de três primos que fundaram a empresa. Dois amigos da família atuam como conselheiros externos.

Aos poucos, com o crescimento da empresa, assuntos de cunho econômico – financeiro tomam vulto. Após horas de discussão e sem a obtenção de um entendimento, as questões são colocadas sob votação, no maior espírito democrático. Terminada sua apuração, em geral, feita sob efeitos do cansaço e estresse emocional, temos como resultado visível e palpável, a ala dos vencedores e a dos perdedores. 

O assunto votado fica de repente em segundo plano. Este sentimento de ganho ou perda é levado pelos familiares para casa. Os sócios familiares uma vez tão unidos e amigos começam a se colocar em posições antagônicas. Isto pode ser percebido em novas decisões por voto, onde um assunto pode ser votado tendo por peso maior os aspectos emocionais do que racionais.  Impera o sentimento do “ganha e perde”. Estamos assistindo a uma situação de contraditórios que podem ser muito prejudiciais para a empresa. A finalidade do Conselho é a de trabalhar em prol do crescimento e desenvolvimento do negócio e não ser palanque de disputas entre familiares.

Existe outra alternativa?

Sim, as deliberações por consenso são as mais nobres e profícuas. Uma decisão por consenso pode levar mais tempo a ser obtida, mas do ponto de vista emocional é aquela onde todos participantes de uma reunião saem com sentimentos positivos e voltarão de bom grado a se reunir para discutir e decidir sobre novas agendas pautadas.  O ideal é que um assunto seja discutido à exaustão até que se chegue ao consenso. A comprovação dos fatos, o real entendimento de uma situação, a lógica ou um caminho alternativo encontrado deve levar os conselheiros a encontrar o consenso. Quando se chega quase a este ponto, mas ainda podendo existir uma pequena pitada de contrariedade por parte de um ou outro conselheiro, este poderá consentir para não atrapalhar o andamento das coisas. Portanto, estamos falando de consenso e consentimento.
                          
As empresas familiares, na maioria das vezes, têm como quotistas, o próprio fundador ou seus filhos e sobrinhos. Eles se sentem donos do negócio e não sócios. Assim sendo, aspectos emocionais em relação ao negócio e à família ainda pesam bastante na tomada de decisão e, por consequência, no voto. Provavelmente, o familiar que teve voto vencido na última reunião de Conselho não irá ao churrasco da família do próximo domingo ou ficará de cara amarrada, por razões óbvias. Talvez o condimento chamado “consenso” irá resolver em grande parte a situação.

A definição de um Regimento Internos dos Conselhos ajuda a definir as regras do jogo. A votação é exercida quando o consenso não é obtido, após todos os esforços despendidos.

Em empresas onde os vínculos familiares já são coisas do passado ou inexistentes, os conselheiros irão externar seus votos em relação aos assuntos pautados, isentos de emoções, pois se enxergam como sócios e não como donos do negócio.  Se tomarem as decisões por consenso isto será muito louvável.
                                                      
*Thomas Lanz é fundador da Lanz Consultores Associados, empresa especializada em governança corporativa, gestão de empresas médias e grandes no Brasil.

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Agência Interagir